Fontes sustentáveis de ômega-3 (EPA/DHA) para gatos e cães

Escrito por Taoufiq Errafi

Pesquisas alcançaram um novo método de obtenção de ácidos graxos ômega-3 para inclusão em alimentos para animais de estimação, conforme descrito neste breve artigo.

Reading time5 - 15 min
Algas marinhas, como as espécies de Schizochytrium, produzem naturalmente os ácidos graxos ômega-3 EPA e DHA, utilizando energia da luz solar.

Pontos-chave

Group 15 1

Os cidos graxos mega-3 usados na produo de alimentos para gatos e ces normalmente so obtidos a partir de peixes, porm isso vem acompanhado de um grande impacto em nosso ecossistema marinho em declnio.

Group 15 2

A soluo foi desenvolver uma tcnica que utiliza microalgas para produzir cidos graxos de forma natural e sustentvel.

Introdução

Os ácidos graxos ômega-3, em particular o ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA), são componentes dietéticos essenciais que contribuem para a saúde e o bem-estar de cães e gatos. Eles são necessários para vários sistemas do corpo, incluindo pele e pelagem, cognição e sistema imunológico. A maioria dos ácidos graxos ômega-3 contidos em alimentos para pets são atualmente provenientes de peixes, mas, de acordo com as Nações Unidas, um terço dos estoques marinhos em todo o mundo foram pescados em excesso ou levados a seus limites ecológicos* - ainda assim, a demanda por peixes está aumentando para a aquicultura , alimentos humanos e alimentos para pets. Como resultado, a Mars e a Royal Canin decidiram há mais de dez anos que os ácidos graxos EPA-DHA eram os principais nutrientes que deveriam ser garantidos para o futuro e adquiridos de maneira sustentável, e se comprometeram publicamente com essa política em 2010. Isso levou ao desenvolvimento de pesquisas inovadoras!

* https://www.un.org/en/chronicle/article/achieving-and-maintaining-sustainable-fisheries

Este processo inovador imita o que as microalgas marinhas fazem na natureza e garante uma fonte confiável de ácidos graxos EPA-DHA, garantindo qualidade consistente e preservando a vida marinha.

Taoufiq Errafi

Qual é a solução?

Era impossível encontrar uma solução viável da noite para o dia, então uma investigação muito aprofundada foi realizada quanto às opções possíveis. Começou-se por estabelecer um roteiro que tinha vários caminhos, incluindo:

  • reaproveitamento de subprodutos não utilizados da indústria de filetagem de peixe envolvida com a cadeia alimentar humana;

  • utilizar apenas óleo de peixe de fontes certificadas como sustentáveis por órgãos externos independentes, como o Marine Stewardship Council (MSC) e a International Fishmeal and Fish Oil Organization (IFFO);

  • pesquisar e desenvolver alternativas inovadoras e sustentáveis para a obtenção do ômega-3 EPA e DHA à base de peixe.

A última opção levou a uma exploração que examinou a possibilidade de usar microalgas como fonte alternativa, inovadora e sustentável de ácidos graxos. No entanto, isso apresentou vários obstáculos que tiveram que ser superados. Em primeiro lugar, tendo analisado diferentes opções e estabelecido que os ácidos graxos ômega-3 à base de microalgas poderiam ser um caminho viável a seguir, foi necessário investigar os processos científicos e de desenvolvimento para garantir que esta solução atendesse aos altos padrões de desempenho dos produtos, incluindo palatabilidade e digestibilidade. Em segundo lugar, e paralelamente, era necessário garantir que os ácidos graxos EPA-DHA das microalgas estivessem em conformidade com os requisitos regulatórios para uso em dietas caninas e felinas em todos os países onde a Royal Canin fabrica seus alimentos. Em terceiro lugar, dado que a Royal Canin tem presença global e utiliza quantidades significativas de EPA e DHA, um marco importante no planejamento foi desenvolver parceiros que pudessem construir uma nova cadeia de suprimentos de microalgas com capacidade suficiente para atender a essas necessidades.

Também foi importante desenvolver a consciência pública desta estratégia. As microalgas usam a luz solar e dióxido de carbono para produzir ômega-3 EPA-DHA (Figura 1) e são, de fato, a fonte original de de onde os peixes obtém ácidos graxos, por isso é importante enfatizar esse ponto aos tutores. Isso não apenas reforça o aspecto de segurança, mas também destaca a importância de se obter ácidos graxos EPA e DHA usando um método que promove a preservação do ecossistema marinho.

Algas marinhas, como as espécies de Schizochytrium, produzem naturalmente os ácidos graxos ômega-3 EPA e DHA, utilizando energia da luz solar.
Figura 1. As algas marinhas, como as espcies de Schizochytrium, produzem naturalmente os cidos graxos mega-3 EPA e DHA usando a energia da luz solar. No processo, eles capturam dixido de carbono e liberam oxignio. Ao replicar esse processo, a Royal Canin agora pode obter cidos graxos mega-3 para seus alimentos para gatos e ces usando tecnologia sustentvel e sem depender de ecossistemas marinhos.
Crditos: Redrawn by Sandrine Fontgne

Produção

A inovação é reproduzir o mesmo que a natureza faz com as microalgas dos mares. Os fornecedores da Royal Canin agora possuem fábricas que utilizam grandes tanques de fermentação para produzir EPA e DHA em condições industriais e com rigoroso controle de qualidade, mas empregando processos naturais e renováveis. Isso garantirá as necessidades da empresa – agora e no futuro – de ácidos graxos EPA e DHA e garantirá a qualidade e a consistência das dietas, ajudando a preservar a vida marinha.

Considerações finais

Os ácidos graxos EPA e DHA provenientes de microalgas são uma alternativa inovadora e sustentável aos óleos de peixe. O óleo de microalgas foram introduzidos nas dietas “Start of Life” da Royal Canin no início de 2022, como parte da jornada contínua para reduzir e substituir matérias-primas à base de peixe. No futuro, pretende-se obter outros ingredientes alimentares de fontes sustentáveis, conforme a tecnologia permitir.

 

Taoufiq Errafi

Taoufiq Errafi

Mestre, Engenheiro de Food Tech & Sciences, Royal Canin, Aimargues, França

France

Taoufiq Errafi se formou como engenheiro de alimentos e ciências com mestrado em Oniris Nantes, França, antes de iniciar sua carreira na Danone, uma empresa francesa de nutrição saudável. Ele ingressou na Royal Canin em 2004 e ocupou vários cargos na empresa nos últimos 18 anos, incluindo cargos em qualidade e segurança alimentar, suprimentos e engenharia global. Atualmente, ele atua como gerente de inovação global de materiais (matérias-primas e ingredientes).