A clínica veterinária sustentável do século XXI
A criação de uma clínica veterinária sustentável proporciona um espírito de equipe, agrega valor aos clientes, aumenta a lucratividade e contribui para um futuro melhor na saúde animal.

Pontos-chave
As mudanças climáticas estão exercendo um impacto negativo sobre os nossos esforços para melhorar a saúde animal. Todos nós precisamos agir e aproveitar as oportunidades para melhorar a sustentabilidade na clínica.
Uma estratégia de emissão zero proporciona um senso de propósito à equipe, valor ao cliente e maior rentabilidade..
Obter reduções reais de emissões e manter toda a equipe engajada são dois indicadores-chave de sucesso em uma estratégia de zero emissões.
Uma estratégia criativa e envolvente de zero emissões usando gamificação e competição atrairá seguidores para esse crescente movimento.
Introdução
Clínicas veterinárias em todo o mundo desejam cada vez mais se tornar sustentáveis à medida que suas comunidades respondem aos crescentes impactos das mudanças climáticas.1 A maior ameaça a longo prazo para o futuro da saúde animal são as mudanças climáticas2 e, como médicos-veterinários, estamos comprometidos em melhorar a saúde de nossos pacientes. A abordagem a essas mudanças climáticas deve ser uma parte essencial do nosso trabalho.
Primeiramente, este artigo descreve os benefícios da sustentabilidade ambiental decorrentes de mudanças que podem ser implementadas em qualquer clínica e, por fim, aborda a oportunidade de reformar ou renovar as instalações da clínica. Em última análise, ter processos sustentáveis e um bom projeto (design) de instalações oferece oportunidades significativas para melhorar a equipe da clínica, o propósito dessa equipe, o valor para o cliente e a rentabilidade.
Sustentabilidade diz respeito a resíduos
O termo "sustentabilidade" é usado em muitos contextos diferentes; por isso, é importante entender sua definição. Segundo a ONU, sustentabilidade é o que permite "atender às necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas próprias necessidades"*. Na prática, isso pode ser traduzido como "não liberar resíduos no ar, na terra ou nos cursos d’água que prejudiquem as gerações futuras". As emissões de gases de efeito estufa, que são equivalentes a resíduos de carbono, contribuem para as mudanças climáticas; portanto, qualquer ação contra essas mudanças climáticas deve reduzir as emissões de carbono.
* https://www.un.org/en/academic-impact/sustainability
Ao implementar um programa de sustentabilidade em uma clínica veterinária, é importante identificar todos os tipos de resíduos. Embora os membros da equipe veterinária estejam cientes e preocupados com o grande volume de resíduos físicos produzidos na clínica, muitos desconhecem que a maior quantidade de resíduos gerados na clínica são as emissões de carbono. Por exemplo, a clínica do autor (uma clínica veterinária de pequenos animais com seis médicos-veterinários) realizou uma auditoria de carbono em 2023 e estimou (Figura 1) que tenham sido geradas aproximadamente 2 toneladas e meia de resíduos físicos e 90 toneladas de emissões de gases de efeito estufa equivalentes a CO2.3

Redução dos resíduos na clínica veterinária
A equipe da clínica veterinária representa uma fonte confiável e influente de informações em sua comunidade, podendo exercer um impacto significativo na sociedade ao apoiar ações contra as mudanças climáticas. Há duas maneiras principais de fazer isso:
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Reduzindo as emissões na clínica: isso deve fazer parte de um compromisso da comunidade para alcançar o objetivo de zero emissões
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Motivando os clientes a reduzir suas emissões: cerca de dois terços da população possuem ou cuidam de animais e interage regularmente com equipes veterinárias,4 representando uma oportunidade de influenciar essa parcela populacional a apoiar uma maior redução das emissões. Uma liderança que conecte a ação climática a uma responsabilidade compartilhada pela saúde animal pode ajudar a construir um amplo apoio comunitário para melhores políticas governamentais, visto que a legislação é a ferramenta mais poderosa para implementar as mudanças necessárias e reduzir o impacto das mudanças climáticas. O objetivo é tornar a redução de emissões uma prática normal e habitual na clínica, basicamente para que os clientes pensem o seguinte: "Se minha clínica veterinária faz isso, então deve ser a coisa certa a fazer".
Desenvolvendo uma estratégia de zero emissões
Do ponto de vista prático, a sustentabilidade envolve a redução de resíduos. Quase todos os resíduos gerados em uma clínica veterinária têm uma pegada de carbono que pode ser usada para mensurar e priorizar a redução de resíduos como uma meta de longo prazo. Essa abordagem pode fazer parte de uma estratégia de zero emissões com um plano estruturado para reduzir as emissões necessárias e deter o avanço das mudanças climáticas. Os principais componentes de uma estratégia de zero emissões são:
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Propósito: a equipe precisa entender POR QUE a estratégia é importante. A equipe da clínica reduz as emissões para melhorar a saúde animal.
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Objetivo: a definição de uma meta de longo prazo fornece uma clara direção para a equipe. Segundo o Acordo de Paris de 2015, a meta é atingir zero emissões até 2050, (5) o que está alinhado com os objetivos nacionais e internacionais para limitar o aquecimento global.
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Processo: todos os resíduos da clínica veterinária geram emissões de carbono, e a mensuração dessas emissões ajuda a identificar e destacar a redução de resíduos alcançada. Cada emissão na clínica é produzida por um sistema de trabalho; portanto, ao analisar diferentes sistemas, é possível identificar, mensurar e priorizar as reduções de carbono.
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Motivação: a decisão de implementar uma estratégia de zero emissões é cada vez mais justificada. As mudanças climáticas continuarão a avançar no futuro próximo; portanto, a decisão de adotar a estratégia de zero emissões será continuamente reforçada.
Embora os membros da equipe veterinária estejam cientes e preocupados com o grande volume de resíduos físicos produzidos na clínica, muitos desconhecem que a maior quantidade de resíduos gerados na clínica são as emissões de carbono.
A estratégia de zero emissões é benéfica para as clínicas veterinárias
Conforme mencionado anteriormente, um passo importante em uma estratégia de zero emissões é revisar os sistemas que geram emissões na clínica. Uma revisão completa dos sistemas costuma gerar benefícios operacionais e financeiros imediatos, simplesmente porque as melhorias se tornam evidentes. Isso foi o que aconteceu em muitos casos durante a pandemia de COVID-19, quando muitos sistemas existentes tiveram de ser revisados, e ficou claro que havia maneiras melhores de fazer determinadas coisas. Vale ressaltar que muitas dessas mudanças, como reuniões virtuais (online) e trabalho remoto, continuaram após a pandemia. Uma estratégia de zero emissões bem implementada pode proporcionar muitos benefícios:
1. Benefícios econômicos
- Economia de energia: pela transição para aparelhos com bombas de calor elétricas, iluminação LED, painéis solares nos telhados (Figura 2) e baterias.
- Economia com a revisão dos sistemas de trabalho: um bom exemplo seria a revisão de protocolos de anestesia para reduzir as emissões de isoflurano. Isso pode melhorar a pré-medicação, aumentar o uso de anestesia local e regional, bem como a analgesia por infusão contínua, e reduzir o fluxo de gás. Isso não só economiza dinheiro, mas também pode gerar novos benefícios e proporcionar um melhor atendimento ao paciente por meio de uma anestesia mais segura e melhor analgesia.
- Revisão da cadeia de suprimentos: a revisão dos contratos de fornecimento atuais oferece novas oportunidades de negócios e a possibilidade de obter as melhores ofertas. Um exemplo seria a revisão de contratos com empresas de gestão de resíduos.
2. Comprometimento da equipe
Equipes de sucesso são aquelas com motivação e propósito claros para o seu trabalho – que, no caso, vão além do salário. Cuidar do nosso planeta e da futura saúde de todos os animais complementa a cultura de cuidado existente nas equipes veterinárias.
3. Recrutamento
Mais de 40% da Geração Z e Millennials levam em consideração a certificação ambiental de uma empresa ao se candidatar a um emprego.6
4. Regulamentação governamental
Países ao redor do mundo estão introduzindo a obrigação de apresentar relatórios climáticos para complementar as metas nacionais de zero emissões, e muitas clínicas veterinárias corporativas de grande porte estarão sujeitas a tais requisitos. Uma estratégia de zero emissões permite que as clínicas gerem oportunidades a partir dos dados de relatórios climáticos.
5. Oportunidades de marketing
Uma parcela significativa da base de clientes será atraída pela sustentabilidade da clínica. Além disso, em estudos do setor veterinário, demonstrou-se que os clientes estão dispostos a pagar mais por serviços sustentáveis.1
6. Melhor gestão de riscos
- Riscos físicos diretos: planejar com base em eventos climáticos extremos pode mitigar perdas. Por exemplo, a energia solar em telhados com bateria de reserva pode reduzir as contas de luz, diminuir as emissões de carbono e proteger medicamentos refrigerados em caso de falta de energia gerada por tempestades.
- Riscos de transição: alguns bens, como certos equipamentos, podem se tornar supérfluos na transição para uma economia de baixo carbono.
- Riscos de litígio: principalmente relacionados com o possível não cumprimento das obrigações de relatórios corporativos.

Passos simples para iniciar a jornada rumo a zero emissões
Como uma clínica pode começar a trabalhar rumo à neutralidade de carbono? Há cinco aspectos principais a serem considerados:
1. Total compromisso dos responsáveis pela gestão da clínica
O sucesso de uma estratégia de zero emissões começa com o comprometimento pleno dos responsáveis pela gestão da clínica.(7). Membros do conselho, proprietários de clínicas e gerentes precisam entender e adotar a estratégia e, em seguida, alinhá-la com as estratégias de negócios existentes (como orçamento, padrão de atendimento, recrutamento, motivação da equipe, e marketing). Por exemplo, a equipe veterinária perderá a motivação se for obrigada a manter o padrão de atendimento e reduzir o uso de gases anestésicos sem receber um treinamento adequado ou os equipamentos necessários.
O "porquê" é o propósito básico de uma estratégia de neutralidade de carbono. É essencial que as pessoas responsáveis pela gestão da clínica informem a equipe veterinária sobre a importância de abordar as mudanças climáticas para o futuro da saúde animal, o que está alinhado com o compromisso de melhoria dos cuidados de saúde oferecido pela clínica. Isso pode ser alcançado por meio de treinamentos e canais de comunicação implementados na clínica, como políticas e procedimentos, protocolos de integração da equipe, e reuniões de equipe.
2. Mensuração da pegada de carbono
A mensuração da pegada de carbono de uma empresa segue um processo padronizado, conforme descrito no Protocolo de Gases de Efeito Estufa.(8) O processo de auditoria de carbono é dividido em três categorias conhecidas como escopos (Quadro 1). A maneira mais fácil de iniciar uma auditoria é mensurar apenas os principais componentes das emissões dos escopos 1 e 2 na clínica. Os dados são simples de coletar, haverá economias financeiras significativas, e metas de redução das emissões podem ser definidas. Reúna dados sobre contas de energia, compras de anestésicos e quilômetros percorridos pelos veículos da clínica. Esses dados podem então ser convertidos em toneladas equivalentes de CO2 usando uma calculadora de carbono para obter a pegada de carbono.
O principal objetivo é alcançar uma redução específica de emissões no primeiro ano. É importante não se sobrecarregar com detalhes e complexidades ao implementar um novo processo em uma clínica movimentada; por isso, é recomendável definir metas simples e alcançáveis desde o início. A auditoria de carbono terá de ser repetida uma vez por ano; portanto, é útil desenvolver sistemas que permitam a futura recuperação de dados do software de contabilidade e gestão da clínica. Assim que a clínica estiver familiarizada com suas pegadas de carbono dos Escopos 1 e 2, as emissões de Escopo 3 podem ser adicionadas para completar toda a auditoria da pegada de carbono. O objetivo de longo prazo é estabelecer metas anuais de redução para atingir zero emissões até 2050.
Quadro 1. Escopo das auditorias de carbono com exemplos para clínicas veterinárias.
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Escopo 1: emissões geradas na clínica. Por exemplo, pelo uso de gás fóssil para aquecimento, gás anestésico isoflurano liberado na atmosfera, e combustíveis fósseis dos veículos da clínica. |
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Escopo 2: emissões decorrentes da compra de eletricidade da rede elétrica. Isso varia de acordo com a região, dependendo da quantidade de carvão e gás utilizada para gerar eletricidade. |
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Escopo 3: todas as emissões geradas por empresas que fornecem produtos e serviços à clínica. Por exemplo, emissões produzidas por deslocamentos de funcionários para o trabalho, resíduos enviados para aterros sanitários, cremação de pets fora da clínica, viagens e acomodações para conferências, compra de consumíveis, e energia usada por softwares de IA. |
3. Informações
A princípio, a maneira mais simples de relatar é notificar as pessoas responsáveis pela gestão da clínica e a equipe veterinária sobre a quantidade total de emissões dos Escopos 1 e 2. É preciso ficar claro que, embora este seja um ponto de partida importante, esses dados não representam a pegada de carbono total. Posteriormente, as emissões de Escopo 3 terão de ser adicionadas para determinar a pegada de carbono total. As emissões totais devem ser reportadas e convertidas em intensidade de emissões (ou seja, emissões por médico-veterinário em tempo integral), o que permite realizar comparações, independentemente do porte da clínica. É importante lembrar de definir uma data de notificação para o ano seguinte.
4. Estratégias de redução de emissões
O processo de redução das emissões começa com uma revisão dos sistemas de trabalho. Identifique as principais emissões que se deseja reduzir e examine os sistemas relacionados a elas. Do ponto de vista prático, duas perguntas-chave precisam ser feitas: a estratégia irá gerar reduções significativas de emissões? E irá promover a adesão da equipe?
O ideal é alcançar uma redução expressiva nas emissões o mais rápido possível. Por exemplo, instalar painéis solares e comprar energia verde são ótimas maneiras de alcançar reduções consideráveis nas emissões, mas exigem pouco envolvimento da equipe. O engajamento da equipe é necessário para implementar a maioria dos programas de redução de emissões na clínica; por exemplo, a reciclagem exige a atuação da equipe, mas não reduz as emissões tanto quanto muitos outros programas. Um programa de redução de gases anestésicos, diferentemente dos exemplos anteriores, requer um forte envolvimento da equipe e também proporciona uma notável redução nas emissões (Figura 3). Outro exemplo é a revisão da área de internação, especificamente o uso de protetores ou camas em gaiolas (um estudo de caso está descrito no Quadro 2). A participação da equipe também é necessária para o relacionamento com os clientes em relação à estratégia de redução de emissões e à geração de valor a longo prazo.
Quadro 2. Estudo de caso: revisão de gaiolas hospitalares.
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Em uma estratégia de zero emissões, os protetores absorventes descartáveis para gaiolas foram identificados como fatores que contribuem para a pegada de carbono (Escopo 3) por conta da(o):
Uma solução seria substituir esse material por fibra natural reciclada de tamanho padrão. O processo pode ser o seguinte: Revisão do material adquirido Realize uma auditoria de todos os materiais de cama das gaiolas. Remova todos os tapetes ou roupas de cama sintéticas e envie-os para um centro de reciclagem especializado (quando as fibras sintéticas são lavadas e secas, elas contribuem para a poluição do ar e dos cursos d’água com plásticos de microfibra). Padronize os materiais usando apenas toalhas e cobertores de lã de fibra natural de segunda mão (ou seja, usados). Os clientes estão sempre dispostos a doar toalhas e cobertores.
Preparação e manuseio da gaiola A menos que haja um motivo convincente para o uso de protetores absorventes descartáveis, as gaiolas devem não só ter um tapete acolchoado reutilizável na parte inferior para isolamento e amortecimento, mas também ser revestidas com uma ou mais toalha(s) de algodão. O escape anal deve ser evitado ao máximo, utilizando a medetomidina como pré-medicação para reduzir essas evacuações produzidas pela ansiedade. Além disso, é preciso garantir que os pacientes internados sejam levados várias vezes para urinar/defecar ao ar livre. Lavagem/secagem do material da cama É recomendável usar uma máquina de lavar industrial com alta velocidade de centrifugação para remover o excesso de umidade, juntamente com uma secadora elétrica industrial. Todos os aparelhos elétricos podem ser carregados por painéis solares de telhado, se disponíveis. No final do dia, as roupas molhadas podem ser penduradas em varais para secar durante a noite. |

5. Celebração do sucesso e geração de valor para o cliente
Para manter a equipe veterinária engajada, é importante tornar os processos interessantes ou divertidos, além de celebrar e recompensar os sucessos. A natureza catastrófica das mudanças climáticas pode ser intimidante e emocionalmente desgastante, e remoer esse pensamento pode levar ao desencanto ou à relutância em participar. As pessoas são mais propensas a participar de programas que consideram prazerosos; portanto, um objetivo de longo prazo é tornar a sustentabilidade e a meta de zero emissões habituais, estimulantes e prazerosas. Entre as estratégias úteis, destacam-se:
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Postagens em redes sociais: em cada post, certifique-se de incluir imagens de animais saudáveis e felizes, bem como de membros da equipe sorrindo (Figura 4).
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Eventos anuais: criar um evento anual, como um programa de revisão e compartilhamento da sua pegada de carbono com duração de um mês, é uma oportunidade para alavancar a criatividade da equipe. O ZerOctober9 é uma iniciativa australiana da Vets for Climate Action para tornar outubro o "Mês da Sustentabilidade e Zero Emissões" na profissão veterinária. Isso traz diversos benefícios, conforme descrito no Quadro 3.
- Conversas com os clientes: esses diálogos são uma ferramenta poderosa para gerar valor a longo prazo a partir das metas de sustentabilidade e zero emissões alcançadas. Essas informações podem ser transmitidas, desde que a equipe se sinta segura e confortável para discutir o tema. Você pode começar incorporando uma cultura de sustentabilidade na equipe veterinária e, em seguida, desenvolver as habilidades necessárias e criar oportunidades para vincular a ação climática à saúde animal nas conversas.
- Gamificação: essa dinâmica de jogos é uma técnica que pode ser usada para estimular a criatividade e a competitividade dentro da equipe. As atividades serão mais eficazes se a equipe estiver ativamente envolvida na concepção e implementação de jogos e competições, assumindo a responsabilidade pelo processo.
- Apoio mútuo ou criação de pequeno grupo de bate-papo: são medidas que podem ajudar a resolver problemas e manter o entusiasmo. Conversas online em pequenos grupos criam interações pessoais para compartilhar ideias e apoiar uns aos outros.
Quadro 3. Os benefícios de tornar outubro o “Mês da Sustentabilidade”.
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Obras e reformas
Basicamente, a sustentabilidade pode ser dividida em (i) sistemas sustentáveis (ou seja, uma estratégia de zero emissões), que podem ser implementados em qualquer clínica, e (ii) instalações sustentáveis. Reconstruir ou reformar uma clínica pode não ser uma opção para todos, mas é uma ótima oportunidade de tornar a clínica sustentável, se possível. Médicos-veterinários não têm formação em arquitetura, e o processo de reconstrução ou reforma pode ser complexo e estressante. É altamente recomendável contratar os serviços de um arquiteto com experiência tanto em design de ambientes como em instalações veterinárias/médicas. Arquitetos entendem a importância de fatores como iluminação, espaço, circulação de pessoas e materiais de construção e, portanto, agregam valor ao projeto a longo prazo.
A sustentabilidade é uma estratégia de gestão de longo prazo; portanto, os custos de uma nova instalação se estendem por mais de uma geração. Há três aspectos importantes a serem considerados: custo de construção, custo de manutenção e custo operacional. Em função da necessidade de grande investimento, é natural o desejo de minimizar os custos de construção, mas isso pode ter consequências a longo prazo, aumentando as despesas de manutenção e operação. Por exemplo, materiais de baixa qualidade exigem manutenção e substituição com mais frequência, o que aumenta os gastos e prejudica os negócios. Isolamento inadequado e orientação solar incorreta aumentam os custos com a energia; aspectos como falta de luz natural, espaços apertados e fluxos de trabalho complexos afetam o estado mental e a retenção de funcionários.
A ventilação com recuperação de calor é um excelente exemplo de como o design sustentável beneficia a rentabilidade, a equipe, os animais e seus tutores. Na clínica do autor, as unidades de ventilação com recuperação de calor operam continuamente em todos os ambientes de trabalho. Há uma troca contínua de ar de baixo fluxo para o exterior, onde o ar fresco que entra troca energia com o ar que sai. Quando comparada aos exaustores, a ventilação com recuperação de calor economiza dinheiro, pois não desperdiça a energia usada para aquecer ou resfriar o local de trabalho. A introdução contínua de ar fresco ajuda a minimizar o "odor da clínica" causado pelo acúmulo de compostos orgânicos voláteis provenientes de desinfetantes, urina e animais. Dessa forma, os clientes que ficam em salas de espera pequenas podem respirar ar puro e limpo, os animais não serão superestimulados (e, portanto, são menos propensos a morder) por fortes odores da clínica, e a equipe veterinária irá respirar um ar mais puro.
Investir nos serviços de um bom arquiteto para projetar uma nova construção ou reforma trará retornos a longo prazo. Ao projetar uma instalação sustentável, você pode criar um espaço que seja um ótimo local de trabalho, atrativo para os clientes e mais econômico para o seu negócio (Figura 5). Isso também irá gerar benefícios a longo prazo em termos de lucro, propósito da equipe e valor para o cliente, muito depois de o custo da construção ter sido pago.

Conclusão
Os médicos-veterinários estão comprometidos em melhorar a saúde animal, e as mudanças climáticas são a maior ameaça ao futuro da integridade de todos os nossos pacientes. Adotar uma estratégia de carbono zero que envolva tanto a redução de emissões na clínica como o engajamento da equipe resulta em maior propósito da equipe, reconhecimento do cliente e rentabilidade da clínica. Estabelecer uma cultura de sustentabilidade na equipe veterinária que incorpore responsabilidade, criatividade e entusiasmo permite que todo o potencial de uma estratégia de carbono zero seja explorado. Essa estratégia não só atrai mais seguidores, mas também proporciona benefícios tangíveis aos clientes, agregando valor e consolidando um amplo apoio da comunidade para melhores políticas climáticas.
Referências bibliográficas
- Deluty SB, Scott DM, Waugh SC, et al. Client choice may provide an economic incentive for veterinary practices to invest in sustainable infrastructure and climate change education. Front. Vet. Sci. 2020;7:622199. doi: 10.3389/fvets.2020.622199
- IPCC, 2023: Summary for Policymakers. In: Climate Change 2023: Synthesis Report. Contribution of Working Groups I, II and III to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Core Writing Team, H. Lee and J. Romero (eds.)]. IPCC, Geneva, Switzerland, pp. 1-34, doi: 10.59327/IPCC/AR6-9789291691647.001.
- Brimbank Vet Clinic – Climate Active public disclosure statement. https://www.climateactive.org.au/buy-climate-active/certified-members/brimbank-vet-clinic. Acesso em 22 de fevereiro de 2025.
- Pets in Australia: A national survey of pets and people
- United Nations Paris Agreement. https://www.un.org/en/climatechange/paris-agreement. acesso em 22 de fevereiro de 2025.
- Deloitte Gen Z and Millennial survey 2024 file:///C:/Users/jerwa/Downloads/deloitte-2024-genz-millennial-survey.pdf
- Watson JA, Klupiec C, Bindloss J, et al. The path to Net Zero carbon emissions for Vet practice. Front. Vet. Sci. 2023;10:1240765. doi: 10.3389/fvets.2023.1240765
- Greenhouse Gas Protocol for Project Accounting. Disponível em: https://ghgprotocol.org/project-protocol (acesso em 22 de fevereiro de 2025)
- Vets for Climate Action ZerOctober. Disponível em: https://www.vfca.org.au/zeroctober, acesso em 22 de fevereiro de 2025.
Leitura adicional
- Climate Change And Animal Health. Stephen C, Duncan C (eds). 1st Ed. London, CRC Press, 2023. ISBN 9780367712020
- How To Talk About Climate Change In A Way That Makes A Difference. Huntley R. London, Murdoch Books, 2020. ISBN 9781911632764
Jeremy Watson
BVSc (Hons), MANZCVs (SA surgery), Brimbank Vet Clinic, Sydenham, Austrália
Jeremy Watson se formou na Universidade de Melbourne em 1986 e é diretor da Brimbank Veterinary Clinic. Em 2021, esta se tornou a primeira clínica veterinária com certificação de neutralidade de carbono da Austrália. Jeremy Watson também se formou em economia circular e estratégias de carbono zero para empresas no Cambridge University Institute for Sustainability Leadership (Instituto de Liderança em Sustentabilidade da Universidade de Cambridge). Além disso, ele é um dos fundadores do Climate Care Program, um programa de sustentabilidade e carbono zero projetado especificamente para clínicas veterinárias.
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