A comunicação é uma habilidade clínica (parte 3)
Escrito por Miguel Ángel Díaz , Iván López Vásquez , Cindy Adams e Antje Blättner
Fazer perguntas abertas aos tutores, especialmente no início de uma consulta, é extremamente importante para melhorar não apenas a comunicação em geral, mas também para garantir que o médico-veterinário conheça a história do animal de forma eficaz.
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Pontos-chave
As perguntas abertas so projetadas para introduzir uma rea de investigao sem moldar o contedo.
Perguntas abertas
Ao refletirmos sobre o início da interação entre o médico-veterinário e o cliente, é importante considerar três objetivos. Em primeiro lugar, queremos saber o que o cliente deseja falar, depois o médico-veterinário acrescenta o que ele quer dizer e, posteriormente, o restante da consulta é planejado com o cliente. O segundo objetivo consiste em estabelecer uma relação inicial e garantir que o cliente se sinta como parte do processo daqui para frente. O terceiro objetivo é avaliar o desempenho do cliente e do paciente, dadas as circunstâncias. Você pode estar se perguntando qual a melhor forma de atender aos três objetivos, considerando a necessidade de ser eficiente. Até o momento, pesquisas revelaram que os médicos-veterinários tendem a evitar perguntas abertas no início da consulta e preferem uma série de perguntas fechadas:
• "Ele(a) está comendo?"
• "Ele(a) está bebendo?"
• “As fezes e a urina estão normais?”
• “O sr./a sra. deu algum remédio a ele(a)?”
• “O sr./a sra. o(a) leva para passear?”
• “O sr./a sra. tomou alguma decisão?”
As pesquisas também indicaram que, em média, os médicos-veterinários interrompem seus clientes quando já estão conversando há 15,3 segundos [1].
"13 versus 2: em média, os médicos-veterinários fazem 13 perguntas fechadas e apenas 2 perguntas abertas durante uma consulta."
As perguntas fechadas são utilizadas quando se deseja obter uma resposta específica e, muitas vezes, de uma única palavra, como sim ou não. Os clientes costumam responder com uma ou duas palavras sem dar mais detalhes. O médico-veterinário formula perguntas fechadas, uma atrás da outra, para manter sua mente afastada das respostas do cliente, enquanto conduz o raciocínio diagnóstico e direciona a conversa para uma determinada área. Isso pode afetar a escuta, a obtenção de informações importantes e o início de uma relação com o cliente.
Segundo estudos realizados sobre comunicação, os médicos-veterinários geralmente formulam 13 perguntas fechadas e 2 abertas em cada consulta (Figura 1). Em 75 das 300 consultas, o que representa 25%, o médico-veterinário não fez nenhuma pergunta aberta [3]. Uma abordagem totalmente baseada em perguntas fechadas também pode aumentar as chances do surgimento de “preocupações ocultas” ao final da consulta.
A probabilidade de preocupações subsequentes é 4 vezes maior quando o cliente não é convidado ou autorizado a contar a sua história, sem deixá-lo explicar ao médico-veterinário o motivo da consulta [1]. Esse fato tem um grande impacto na duração das consultas. Embora não exista um padrão quanto ao número exato de perguntas abertas e fechadas que o médico-veterinário deve fazer, é recomendável estruturar as consultas, seguindo um modelo de funil, em que as perguntas abertas são formuladas no início e as perguntas fechadas, mais diretas e específicas, são feitas no final para esclarecer os detalhes ou coletar informações não fornecidas pelo questionamento aberto inicial.
Considerando que 85% dos diagnósticos são formulados a partir da obtenção do histórico [4], vale a pena avaliar a quantidade de perguntas abertas e fechadas que são feitas em uma determinada consulta e trabalhar de modo a canalizar a conversa, começando com perguntas abertas amplas e, depois, fazendo perguntas fechadas ou esclarecedoras (Figura 2).
No início da entrevista com o cliente, é importante fazer perguntas abertas, tais como:
• “Em que posso ajudá-lo(a)?”
• “Diga-me o que trouxe o sr./a sra. e a Molly aqui?”
• “Sobre o que o sr./a sra. gostaria de falar hoje?”
Com esse tipo de perguntas, o cliente pode comentar em termos gerais como está seu pet, embora seja possível que o verdadeiro problema que os levou à clínica não seja descoberto. Por outro lado, pode surgir uma conversa útil e proveitosa com o cliente quando ele compartilha algum fato interessante sobre o pet; por exemplo, o tutor pode contar que seu gato dorme agora ao pé da escada e acreditar que isso esteja acontecendo porque o lugar onde ele dormia antes era muito quente. Na verdade, essa mudança de comportamento pode ser atribuída à temperatura, mas também a outras causas. Graças a perguntas abertas, o médico-veterinário pode compreender melhor o que o cliente está pensando, o que é essencial para o desenvolvimento de uma boa relação entre eles.
Outra opção é fazer uma pergunta aberta, mas direcioná-la de forma mais específica e direta ao paciente.
Por exemplo:
• “Diga-me que problemas Ryder têm tido desde a última vez que ele esteve aqui?”
• “Como posso ajudar o sr./a sra. e o Paisley?”
• “Recebi uma carta de encaminhamento do médico-veterinário sobre o que está acontecendo com Shadow, mas por gentileza me conte primeiro quais são os problemas do seu ponto de vista.”
As perguntas abertas são projetadas para introduzir o tópico a ser investigado, sem limitar a forma do conteúdo. Essas perguntas direcionam o cliente para uma determinada área, mas permitem a ele uma maior variedade de respostas, transmitindo a mensagem de que a elaboração de suas respostas é importante e bem-vinda. É fundamental levar em conta que a duração média da fala de um cliente é de 150 segundos caso não seja interrompido [1].
"15,3 segundos é o tempo médio que um tutor de pet pode falar antes de ser interrompido pelo médico-veterinário."
Não existem perguntas abertas corretas ou incorretas; as perguntas devem ser formuladas de acordo com a situação. No entanto, é necessário ter uma maior consciência e refletir cuidadosamente sobre como iniciamos cada consulta, a fim de permitir que o cliente conte a sua história antes de passar para perguntas fechadas mais diretas.
Miguel Ángel Díaz
DVM
Spain
Miguel received a degree in Veterinary Science in 1990. After working at several clinics he opened his own clinic in 1992 which grew from a two-person office to a 24/7 hospital with 17 employees. After running his hospital for 25 years, he handed it over to his team in 2017 in order to concentrate exclusively on his great passion: coaching.
Miguel is the director of the company New Way Coaching, aimed at helping veterinarians become better leaders. He has been educating and training veterinarians in Europe, Latin America, and Asia since 2009 in leadership, motivational techniques, effective communication, handling objections, conflict resolution, influence and persuasion. He spends his days giving individual coaching sessions, private training for his clients’ teams, and workshops and conferences for major veterinary sector companies.
Miguel is an International Coach Certified by the International Coaching Community and the Center for Executive Coaching (USA). He is a Certified Trainer for Edward de Bono’s Six Thinking Hats.
He has been an international speaker at conferences in over 10 countries on three continents. He is the author of the book “7 Keys to Successfully Running a Veterinary Practice”, which has been translated into English, Polish, Chinese and Italian.
Iván López Vásquez
DVM
Chile
Iván comes from a family of veterinarians; his father and older brother share the same passion. He obtained his degree from the Universidad de Concepción in 1991, worked a few years at a small clinic and then shifted his career towards sales and marketing, holding several positions at multinational companies in the domestic pet market in his native country.
Since 2008 he has been the executive director of Vetcoach, a business and organizational consulting company that specializes in the pet veterinary sector in Latin America, where his vision is to create “a new standard for the veterinary world”.
Iván has studied marketing, innovation, coaching and positive psychology. Today he is a strategic business consultant in organizational development and innovation, an ORA Coach (Organizational Role Analysis), creator of initiatives to improve the well-being (happiness) of veterinary students and qualified veterinarians, as well as high-value training programs for veterinary companies and their teams on subjects such as management, wellbeing, communication skills and positive leadership.
Iván has written several management articles for veterinary journals and is an international conference speaker in Latin America.
Cindy Adams
MSW, PhD
Canada
Cindy Adams é professora do Departamento de Ciências Clínicas e Diagnósticas Veterinárias na Faculdade de Medicina Veterinária da University of Calgary, onde ela desenvolveu e implementou o Clinical Communication Program (Programa de Comunicação Clínica) da nova Faculdade de Medicina Veterinária de Calgary. Para aperfeiçoar o seu conhecimento sobre as relações homem-animal, ela foi assistente social de 1980 a 1992 em associações de bem-estar infantil, abrigos para mulheres e sistemas judiciais. Os animais frequentemente participam desse tipo de trabalho. A combinação das diferentes perspectivas adquiridas a partir de suas experiências em assistência social e seu doutorado em Epidemiologia Veterinária a levou a se tornar membro do corpo docente na Ontario Veterinary College da University of Guelph (1996-2006), onde ela elaborou e conduziu o primeiro plano de estudos em Comunicação Veterinária na América do Norte e foi pioneira em um programa de pesquisas sobre Comunicação em Medicina Veterinária.
Ela contribuiu para o lançamento do projeto de Comunicação Veterinária do Institute for Healthcare Communication (conhecido antigamente como Instituto Bayer). Suas pesquisas se concentraram no treinamento em comunicação, na comunicação cliente-veterinário em clínicas de pequenos e grandes animais, bem como no bem-estar animal e na dor humana causada pela morte dos animais de companhia. Fundadora da International Conference on Communication in Veterinary Medicine (Conferência Internacional sobre Comunicação em Medicina Veterinária) e coautora do livro Skills for Communicating in Veterinary Medicine (Habilidades de Comunicação em Medicina Veterinária), ela tem ministrado palestras em nível internacional e assessorado médicos-veterinários, equipes de clínicas veterinárias e educadores de medicina veterinária na América do Norte, Europa, Austrália e Caribe.
Antje Blättner
DVM
Germany
A Dra. Blättner estudou em Berlim e Munique e, depois de se formar em 1988, ela montou e administrou sua própria clínica de pequenos animais. Em seguida, ela concluiu um curso de pós-graduação em training (formação) e coaching (treinamento) na University of Linz, Áustria, antes de fundar a Vetkom, uma empresa internacional dedicada à educação de médicos-veterinários e técnicos veterinários sobre gestão de clínicas, comunicação com os clientes, marketing e outros tópicos relacionados por meio de palestras, seminários e treinamentos internos. Além de ser editora de dois periódicos veterinários, ela trabalha juntamente com a Royal Canin no treinamento de médicos-veterinários em mais de 20 países diferentes.
Referências
- Dysart LMA, Coe JB, Adams CL. Analysis of solicitation of client concerns in companion animal practice. JAVMA 2011;238(12):1609-1615.
- Bonvicini K. Bayer Animal Health Communication Project. Getting the Story: Understanding client and patient. New Haven (CT): Institute for Healthcare Communication, 2003.
- Shaw JR, Adams CL, Bonnett BN, Larson S, Roter DL. Use of the Roter interaction analysis system to analyze veterinarian-client-patient communication in companion Animal practice. JAVMA 2004;233(10):1576-1586.
- Henderson M, Tierney L, Smetana G. The Patient History: An Evidence-Based Approach to Differential Diagnosis, 2e. Mc-Graw Hill, New York 2012.